New title on Hegel and Deleuze

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Programação para o primeiro semestre de 2013

Em 2013, o grupo de pesquisa Materialismos – Correlacionismo, ontologia e ciência na filosofia contemporânea (CNPq) está alterando sua forma de funcionamento. Criado no primeiro semestre de 2011, o grupo, além de organizar quatro eventos locais e um internacional (a conferência A Virada Ontológica na Filosofia Contemporânea, em outubro de 2012, a primeira de seu tipo no Brasil), manteve desde então um grupo de leitura quinzenal, cujo programa de leituras pode ser visto no site do grupo (www.materialismos.tk).

Durante 2013, o grupo continuará fazendo encontros quinzenais, mas se focará mais na pesquisa feita pelos próprios membros; desta forma, a programação para o primeiro semestre de 2013 consiste no Seminário Aberto de Pesquisa em Andamento/ Materialismos, em que diferentes participantes farão apresentações seguidas de debates. As apresentações buscam relacionar a pesquisa em andamento feita por mebros e convidados com os temas de interesse do grupo; elas podem ser no formato de papers já preparados para outros eventos, aulas, apresentação de livros etc.

Os encontros acontecerão sempre às 14h, na sala 502, prédio 5, nos dias abaixo:

2/abril, terça: Adriano Kurle; Charles Borges

16/abril, terça: Eduardo Luft; Rodrigo Nunes

7/maio, terça: Rodrigo Nunes; Alexandre Pandolfo

17/maio, sexta (extraordinariamente): Larissa Couto; Manuela Mattos

28/maio, terça: Vanessa Nicola; Henrique Doelle

11/junho, terça: a confirmar

25/junho, terça: Norman Madarasz

Todas as sessões são abertas a não-membros do grupo. As apresentações serão de cerca de 45 min, seguidas de meia hora de debate, com um intervalo de 15 min entre elas.

Para saber mais sobre Materialismos – Correlacionismo, ontologia e ciência na filosofia contemporânea:

http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=0006701GPX6ISZ
www.materialismos.tk

email para contato: gpmaterialismos@gmail.com.br

A partir dos anos 1980, uma série de polêmicas opôs a filosofia continental contemporânea (e em particular a recepção anglo-saxã do pensamento francês) à ciência, supostamente trazendo à tona uma linha divisória definitiva entre o “realismo cientifico” e o “construtivismo social” “pós-moderno”. Hoje, pode-se ver como a virulência do debate de então acabou por reforçar aquilo que suas posições tinham de pior: de um lado, um endurecimento que, por vezes, sacrificou a auto-crítica e a abertura em favor da afirmação de um realismo empobrecido e de uma visão ultrapassada, reificada, do real funcionamento das ciências; por outro, uma ênfase exagerada na idéia de “construção social” que parecia negar qualquer valor à noção de objetividade, não apenas incapacitando a filosofia na discussão do potencial heurístico da ciência, como isolando-a em pontos cegos em relação as suas próprias pressuposições.

O reconhecimento dos excessos passados, bem como a relevância adquirida por novas áreas de pesquisa científica não necessariamente correspondentes ao paradigma moderno de objetividade, causalidade etc., fazem com que um novo campo se abra para pensar, uma vez mais e de maneira mais produtiva, as relações entre filosofia e ciência, e o que uma pode pensar com a outra. Do lado da filosofia continental, é crescente o consenso de que o dito “pós-modernismo” – que quando da sua nomeação já era um termo inadequado para cobrir uma diversidade grande de posições, muitas das quais jamais aceitaram o rótulo – é um episodio encerrado; e que o programa radical do “construtivismo social” jamais deixou de deparar-se com um “resto” que punha, novamente, à baila noções como objetividade, corpo e matéria.  Existe, em particular, uma tendência crescente a buscar realizar o projeto imanentizador da modernidade através de um repensar do materialismo – onde, justamente, o problema do que vem a contar como “matéria” é o que se torna objeto do esforço filosófico; e se torna a debater a oposição entre uma imanentização pela via correlacionista (que conduz aos diferentes modelos de construtivismo) e uma imanentização pela via materialista (que evitaria, ao mesmo, abraçar qualquer forma de “realismo ingênuo”).

Seja na aproximação com a biologia e a física contemporâneas (Deleuze, Stengers, Ansell Pearson, DeLanda), com a ciência cognitiva e a neurociência (Maturana, Varela, Protevi, Nöe, Malabou, Metzger, Damasio), com as teorias dos conjuntos e das categorias (Badiou), com a questão da ciência e da técnica em geral (Latour, Stiegler), no “realismo especulativo” de Harman, Meillassoux, Brassier e Grant, na revalorização de autores como Bergson, Tarde, Whitehead e Simondon, seja no impacto de autores como tais nas ciências sociais, há hoje uma redescoberta da ontologia e de uma especulação metafísica informada pelos desenvolvimentos científicos mais recentes e em diálogo aberto com vertentes da tradição analítica. Uma tendência que não consiste, evidentemente, em um simples “retorno” – que seria um mero “esquecimento” dos fatores que determinaram as trajetórias por vezes divergentes, por vezes convergentes, de ciência e filosofia, tradição analítica e continental –, mas trabalha rumo a uma redefinição das fronteiras entre essas áreas. E, como não poderia deixar de ser, da própria tarefa da filosofia.

O grupo de pesquisa Materialismos – Correlacionismo, ontologia e ciência na filosofia contemporânea pretende criar, no PPG em Filosofia da PUCRS e com pesquisadores de outras instituições, um espaço de discussão na intersecção entre tradições continental e analítica, onde questões abertas pela filosofia contemporânea possam ser criticamente debatidas.

Mais especificamente, ele busca familiarizar os participantes com alguns debates e autores contemporâneos; e estimular uma cultura de debate, pluralismo e engajamento crítico para além das fronteiras de disciplinas e tradições. Além disso, propõe-se a oferecer um espaço de apoio e intercâmbio para as pesquisas individuais de seus participantes, através de encontros regulares de um grupo de leitura e da promoção de eventos de âmbito local e/ou com a participação de pesquisadores de fora da PUCRS.

MaterialismoS é coordenado pelo Prof. Dr. Rodrigo Guimarães Nunes, professor colaborador e pós-doutorando com bolsa combinada CAPES/PNPD e FAPERGS no PPG em Filosofia da PUCRS (http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhepesq.jsp?pesq=4082055831752880).

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Lições Espanholas: debate entre o movimento 15M da Espanha e os movimentos de Porto Alegre

Debate com participante do movimento 15M, da Espanha, este sábado às 17h45 no Quilombo das Artes/Assentamento Urbano Utopia e Luta, escadaria da Borges.

Lições Espanholas MaterialismosG

Enquanto Porto Alegre viu, nas últimas semanas, aquilo que pode ser o início de um novo movimento de massa, a Espanha tem vivido desde maio de 2011 um momento riquíssimo de mobilização popular. Mais antigo, mais numeroso e mais duradouro que o movimento Occupy dos Estados Unidos, o 15M foi o primeiro dos movimentos globais a seguir o exemplo da Primavera Árabe e reagir contra as políticas de austeridade, a ditadura do capital financeiro e a erosão da democracia representativa no estado espanhol e na Europa; foi da Espanha que originalmente partiu o chamado para o dia de ação global de 15 de outubro de 2011, que transformou Occupy em um fenômeno global.

Nestes quase dois anos, o 15M se deparou com vários desafios que os movimentos de Porto Alegre terão de enfrentar cada vez mais: a necessidade de ampliar seu alcance para parcelas cada vez maiores da população; as tentativas de criminalização pela polícia e a mídia; a relação com os partidos políticos e a política institucional; o problema de como aumentar a capacidade de agir mantendo a democracia interna; a necessidade de desenvolver diversidade e flexibilidade de táticas de ação e comunicação para atacar as questões sociais de diferentes ângulos.

Este encontro é uma oportunidade para aprender mais sobre esta experiência com alguém que a vive por dentro: Sérgio González, cientista político e ecólogo, membro da rede 15M de Barcelona e do projeto X.net, associação de defesa da cultura livre e da democracia em rede. É também uma ocasião para refletir sobre o que estamos fazendo em Porto Alegre, e pensar, a partir daquilo que tem se construído na Espanha, quais podem ser nossos próximos passos.

O debate é coorganizado pelo grupo de pesquisa MaterialismoS e o Assentamento Urbano Utopia e Luta, e dá continuidade a discussões iniciadas no evento O que significa mudar o mundo hoje? de outubro de 2011.

Para saber mais sobre o 15M:

http://es.wikipedia.org/wiki/Movimiento_15-M
https://es.wikipedia.org/wiki/X.net
https://es.wikipedia.org/wiki/Stop_Desahucios#Stop_Desahucios
http://15mparato.wordpress.com/
http://www.youtube.com/watch?v=kODIHGNokrI&list=PL92FE5C92CA3F3211

Para saber mais sobre o Assentamento Urbano Utopia e Luta:

http://www.sul21.com.br/jornal/2011/09/assentamento-em-predio-publico-de-porto-alegre-desafia-politica-habitacional/

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Certificados de participação n’A Virada Ontológica

Muito obrigado a tod@s que participaram do evento como ouvintes ou oferecendo comunicações.

Os certificados de participação n’A Virada Ontológica já estão prontos. Para receber o seu, entre em contato com a secretaria do PPG em Filosofia da PUCRS através do email filosofia-pg@pucrs.br ou do telefone (51) 33203554. 

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Conferências

Eduardo Luft (PUCRS) Notas para uma estética do pensamento (Notes towards an aesthetics of thought)

[texto em PortuguêsInglês]

*

Rodrigo Nunes (PUCRS) What are post-critical ontologies?

[texto em Português / Inglês]

*

John Protevi (Louisiana State) Uma ontologia do ritmo: Deleuze e Guattari e as ciências da sincronização  (An ontology of rhythm: Deleuze and Guattari and the sciences of entrainment)

[slides em Português / Inglês]

*

Markus Gabriel (Bonn) O sentido da existência (The meaning of existence)

[texto em Português / Inglês]

*

Benjamin Noys (Chichester) Vida selvagem e a ontologia do capital (Savage life and the ontology of capital)

[texto em Português / Inglês]

*

Norman Madarasz (PUCRS) Ainda não ontológico: sobre uma fenomenologia estruturalista (Not yet ontological: on a structuralist phenomenology)

[texto em Português / Inglês]

*

Steven Shaviro (Wayne State) Pensamento não-correlacionado (Uncorrelated thought)

[texto em Português / Inglês]

*

Eduardo Viveiros de Castro (Museu Nacional/UFRJ) A outra metafísica e a metafísica dos outros (The other metaphysics and the metaphysics of others)

[texto em Português / Inglês]

Publicado em Uncategorized | 1 Comentário

Transmissão ao vivo do primeiro dia d’A Virada Ontológica na Filosofia Contemporânea

Watch live streaming video from catarsetv at livestream.com
Publicado em Uncategorized | 1 Comentário

A Virada Ontológica na Filosofia Contemporânea – Programação Completa

Mesas:

 

3/10

Auditório térreo, prédio 5

 

14h

Eduardo Luft (PUCRS) Notas para uma estética do pensamento (Notes towards an aesthetics of thought)

Debatedor: Markus Gabriel (Bonn)

Moderador: Moysés Pinto Neto (PUCRS)

18h

John Protevi (Louisiana State) Uma ontologia do ritmo: Deleuze e Guattari e as ciências da sincronização  (An ontology of rhythm: Deleuze and Guattari and the sciences of entrainment)

Debatedor: Steven Shaviro (Wayne State)

Moderador: Nythamar Fernandes de Oliveira Jr (PUCRS)

 

4/10

Auditório térreo, prédio 5

 

10h

Rodrigo Nunes (PUCRS) What are post-critical ontologies?

Debatedor: John Protevi (Louisiana State)

Moderador: Hilan Bensusan (UnB)

14h

Norman Madarasz (PUCRS) Ainda não ontológico: sobre uma fenomenologia estruturalista (Not yet ontological: on a structuralist phenomenology)

Debatedor: Rodrigo Nunes (PUCRS)

Moderador: Marcelo Villanova (PUCRS)

17h45

Lançamento do livro Mitologia, Loucura e Riso: Subjetividade no Idealismo Alemão, de Markus Gabriel e Slavoj Zizek (ed. Civilização Brasileira)

18h

Markus Gabriel (Bonn) O sentido da existência (The meaning of existence)

Debatedor: Eduardo Luft (PUCRS)

Moderador: Déborah Danowski (PUCRJ)

 

5/10

Auditório térreo, prédio 5

 

10h

Benjamin Noys (Chichester) Vida selvagem e a ontologia do capital (Savage life and the ontology of capital)

Debatedor: Rodrigo Nunes (PUCRS)

Moderador: Charles Borges (PUCRS)

14h

Steven Shaviro (Wayne State) Pensamento não-correlacionado (Uncorrelated thought)

Debatedor: Hilan Bensusan (UnB)

Moderador: Norman Madarasz (PUCRS)

 

18h

Eduardo Viveiros de Castro (Museu Nacional/UFRJ) A outra metafísica e a metafísica dos outros (The other metaphysics and the metaphysics of others)

Debatedor: Benjamin Noys (Chichester)

Moderador: Rodrigo Guimarães Nunes (PUCRS)

 

 

Comunicações

 

3/10

 16h:

Auditório térreo, prédio 5

Moysés Pinto Neto (doutorando, PUCRS) Levinas e Malabou em torno da natureza: do elementar à plasticidade

Alessandro Zir (doutor, Dalhousie/ pós-doutorando, UFSC) Platon, père excessif et défaillant: o debate em torno do simulacro na tradição pós-nietzscheana

José Maria Arruda (UFF/ doutor, Essen), O perspectivismo de Nietzsche é uma forma de correlacionalismo?

Moderador: Federico Testa (PUCRS)

16h:

Sala 403, prédio 5

Ediovani Antônio Gaboardi (UFFS/ doutorando, PUCRS) Da epistemologia à ontologia: a posição hegeliana sobre a definição tradicional de conhecimento

Lucas Camarotti (mestrando, UnB) Como deve ser feito o início da ciência? Prolegômenos para uma reelaboração ontológica do materialismo

Adriano Bueno Kurle (doutorando, PUCRS) Ontologia e linguagem da música: primeiras reflexões para um projeto de pesquisa

Moderador: Richer Fernando Borges (PUCRS)

4/10

16h:

Auditório térreo, prédio 5

Marco Antonio Valentim (UFPR/ doutor, UFRJ) A anterioridade da terra

Marcos de Almeida Matos (UFAC/ mestre, UFMG) “Tudo cósmico e exterior”: a o(do)ntologia do pensamento antropofágico

Aécio Amaral (UFPB, doutorando Goldsmiths College, University of London) Bioinformática e excesso de biopoder

Moderador: Adriano Bueno Kurle (PUCRS)

 

16h:

Sala 403, prédio 5

Maicon Reus Engler (doutorando, UFSC) A metafísica do fim da metafísica

Rogério Vaz Trapp (UFFS/ doutor, PUCRS) Ontologia como Teoria acerca da totalidade possível

Nelson Job (doutor UFRJ/ pós-doutorando, UFRJ) Uma virada ontológica que poderia abandonar a ontologia: a transcendência a posteriori

Moderador: José Maria Arruda (UFF)

5/10

16h:

Auditório térreo, prédio 5

Déborah Danowski (PUCRJ/ doutora, PUCRJ) Relações internas como acontecimentos em Leibniz

Alexandre Nodari (doutor, UFSC/ pós-doutorando, UFSC) O “reino subterrâneo”: apontamentos sobre a ficção da matéria e a matéria da ficção

André Bassères (mestre, UERJ) Foucault e a literatura: o “ser da linguagem” como metafísica vazia

Moderador: Aécio Amaral (UFPB)

 

16h:

Sala 403, prédio 5

Vanessa Nicola Labrea (graduanda, PUCRS) A especulação da ambigüidade: contribuição para uma ontologia não-correlacional e apartada das condições epistemológicas clássicas

Lucas Nascimento Machado (mestrando, USP) O problema difícil da consciência – o problema difícil da ontologia? 

Halina Macedo Leal (doutora, USP) Relativismo epistemológico moderado: revisitar a realidade

Moderador: Tiegue Rodrigues (PUCRS)

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

3/10

1) Eduardo Luft, Notas para uma estética do pensamento

Resumo: A intuição para estas notas veio durante um vôo cruzando o Atlântico, em meio à leitura da conferência “Iteration, Reiteration, Repetition: a Speculative Analysis of the Meaningless Sign”, de Quentin Meillassoux. Dei-me conta de que tenho me aproximado de uma teoria do pensamento pelo lado inverso do seguido por Meillassoux, quer dizer, explorando o espaço lógico evolutivo não a partir de seu segundo, mas de seu primeiro quadrante, nas cercanias do Mundo de Górgias. Não parto, portanto, de uma teoria do pensamento manifesto predominantemente na forma do conceito (ou do pensamento expresso em redes conceituais), mas de uma teoria do pensamento vertido predominantemente na forma da intuição (ou do pensamento expresso em metáforas, e mais fundo em imagens quase puras do pensamento).  Desse modo, à primeira vista, o meu percurso parece me afastar inteiramente do caminho percorrido por Meillassoux em seu ensaio. Todavia, quanto mais nos afastamos percorrendo estas diversas vias, mais nos aproximamos, pois o pensamento minimamente determinado, o pensamento em que se manifesta o predomínio máximo do Múltiplo sobre o Uno é justamente aquele pensamento que não contém mais nada de determinado a não ser a iteração da própria exigência de coerência. Conduzido a seus extremos, o Mundo de Górgias reverte no Mundo de Parmênides. Esta é uma explicação possível para a oscilação contínua presente no pensamento de Meillassoux entre a defesa de uma teoria da contingência radical, desdobrada nas proximidades do Mundo de Górgias, e uma teoria das estruturas formais quase puras do pensamento e do ser, próxima ao Mundo de Parmênides. Meillassoux parece não ter consciência de como estes dois mundos se fundem e revertem um no outro nas cercanias do Mundo de Cusanus”.

Eduardo Luft, Notes towards an aesthetics of thoughtThe intuition for these notes came during a flight across the Atlantics, while reading Quentin Meillassoux’s‘Iteration, Reiteration, Repetition: a speculative analysis of the meaningless sign’. I realised that I have been approaching a theory of thinking from the opposite direction of Meillassoux’s, exploring evolutionary logical space not from its second, but from its first quadrant, in the vicinity of what I call Gorgias’ World. Therefore, I don’t depart from a mostly conceptual form of thought (or of a thinking expressed in conceptual networks), but from a theory of thought mostly expressed in the form of intuition (or of a thought expressed in metaphors, and almost pure images of thinking more profoundly ). At first glance, therefore, my route seems to lead me in a totally different direction to Meillassoux’s in his essay. However, the farther we go down these separate roads, the closer we come, since minimally determinate thought, i.e., where a maximum predominance of the Multiple over the One obtains, is exactly that thought which doesn’t contain anything determinate apart from the iteration of its demand for coherence. Taken to its extremes, Gorgias’ World reverts into Parmenides’ World. This is one possible explanation for the continuous oscillation found in Meillassoux between the defense of a theory of radical contingency, next to Gorgias’ World, and a theory of almost pure formal structures of thought and being, next to Parmenides’ World. Meillassoux seems unaware of how both worlds merge and revert into one another in the vicinity of Cusanus’ World.

2) John Protevi, Uma Ontologia do Ritmo: Deleuze e Guattari e as ciências da sincronização

Resumo: No capítulo sobre o ritornello (ou refrão) em Mil Platôs, Deleuze e Guattari desenvolvem uma ontologia do ritmo na qual a inovação é ligada à “transcodificação”. Qualquer meio (i.e., qualquer coisa com fronteiras) tem um período de repetição ou “código” – suas batidas; portanto, quando meios se interseccionam, há transcodificação ou ritmo (sendo ritmo a relação entre batidasacentuadas e não-acentuadas, deve haver interação entre as batidas de cada meio para ter-se ritmo). Esses ritmos ocorrem em todos os registros espaciais e temporais, do atômico ao celular, organísmico, territorial, ecológico e “cósmico”.

No meu paper vou explorar um caso-limite do ritmo, a sincronização, no qual organismos coordenam seus ritmos para formar agenciamentos. Vamos examinar como o conceito de ritmo de Deleuze e Guattari nos ajuda a compreender estudos no desenvolvimento infantil (os ritmos da dupla criança-cuidador), na evolução da musicalidade e vários fenômenos políticos e militares, das trirremes do império ateniense até o “microfone humano” de Occupy Wall Street.

John Protevi, An ontology of rhythm: Deleuze and Guattari and the sciences of entrainment:In the Refrain chapter of A Thousand Plateaus Deleuze and Guattari develop an ontology of rhythm in which innovation is linked to “transcoding.” Any milieu (anything with a border) has a period of repetition or “code” – its beats; thus when milieus intersect, there is transcoding or rhythm (since rhythm is the relation of accented to unaccented beats, there must be interaction of milieu beats to have rhythm). These rhythms occur at all spatial and temporal registers, from the atomic to the cellular, organismic, territorial, ecological, and “cosmic.”

In my paper I will explore one limit case of rhythm, entrainment, in which organisms coordinate their rhythms to form assemblages. We’ll examine how Deleuze and Guattari’s notion of rhythm helps us understand studies in infant development (the rhythms of the infant-caretaker couple), evolution of musicality, and various military and political phenomena, from the triremes of the Athenian empire to Occupy Wall Street’s “human microphone.”

 

4/10

3) Rodrigo Nunes, O que são ontologias pós-críticas?

Resumo: Nesse paper tento descrever o espaço no qual o retorno contemporâneo à especulação ontológica toma lugar a partir de uma indagação de suas condições implícitas. Ao invés de propor um novo projeto ao lado dos já existentes, procuro tornar claro de que modo esses projetos especulativos contemporâneos podem ser ditos especulativos sem recair na metafísica dogmática pré-crítica. Crucial para esse tarefa é tornar explícito o que está implicado no pluralismo de posições que testemunhamos hoje, em afirmações que são mais ou menos aceitas por todas elas (como o dictum baudiouniano de que a filosofia não produz verdades), e na questão sobre se essas proposições ontológicas dizem respeito ao que é conhecível ou pensável. Isso é feito na crença de que a especulação contemporânea é de fato possível, e é de fato pós-crítica, motivo pelo qual proponho chamar as posições que ocupam esse espaço de ontologias pós-críticas. Esse termo, entretanto, é ao mesmo tempo descritivo e visa a produzir aquilo que descreve: uma certa cautela auto-reflexiva em torno das condições de possibilidade para a especulação, que parece às vezes perdida numa certa denegação ou méconnaissance a respeito do que realmente fazemos hoje em dia quando fazemos ontologia, e que está especialmente ligada às discussões em torno do “correlacionismo”. Neste sentido, então, minha análise se coloca como alternativa à de Quentin Meillassoux. Trata-se de um argumento capaz de ser favorável tanto à especulação quanto a uma forma de correlacionismo (como um pré-requisito para a crítica), porque propõe que vejamos o correlacionismo que deixamos para trás não como um todo-poderoso outro, mas já uma forma – carente de auto-reflexividade e comprometida por uma falsa consciência – de especulação.

Rodrigo Nunes, What are post-critical ontologies?In this paper, I attempt to describe the space in which the contemporary return to ontological speculation takes place by grasping its implicit conditions. Rather than placing a new project alongside the already existing ones, I seek to clarify in what way these projects can be said to be speculative without regressing into pre-critical, dogmatic metaphysics. Crucial to this task is making explicit what is implied in the pluralism of positions that we witness today, in statements that are more or less accepted across the board by these (such as the Badiouian dictum according to which philosophy does not produce truths), and in the problem of whether ontological claims concern what is knowable or thinkable. This is done in the belief that contemporary speculation is indeed possible, and is indeed post-critical, hence why I propose to call the positions that fill this space by the name of post-critical ontologies. This term, however, is at once descriptive and aiming to produce what it describes: a certain self-reflexive awareness concerning the conditions of possibility for speculation that seems at times to be lost in favour of a certain disavowal or méconnaissance concerning what we are really doing today when we do ontology, and which is especially tied up with discussions concerning ‘correlationism’. In that sense, then, this aims to be an alternative account to Quentin Meillassoux’s. It is an argument that manages to be in favour of both speculation and a form of correlationism (as a pre-requisite for critique) because it proposes that we see the correlationism that we leave behind not as an all-powerful other but as already a form – lacking in self-reflexivity and mired in false consciousness – of speculation.

4) Norman Madarazs, Ainda não ontológico: sobre uma fenomenologia estruturalista

Resumo: Algumas das alegações por trás da assunção da virada ontológica na filosofia continental contemporânea referem-se à inovadora fenomenologia não-fundacionista desenvolvida por Alain Badiou em Lógicas de Mundos (2006). Nos termos da obra badiouana, contudo, Lógicas de Mundos representa uma transformação nas pretensões ontológicas feitas em Ser e Evento (1998, passando da determinação dos termos universais da verdade do acontecimento e sua realização na forma de sujeito, ao exame das estruturas específicas de objetivação pelas quais a verdade é encarnada, por assim dizer, em corpos. No curso da expansão do seu sistema, Badiou começa a reabilitar o uso da palavra “metafísica” em meio aos anos 90, e identifica seu pertencimento a essa designação, assim como Deleuze. Nesse paper, descrevo a passagem entre estes dois livros e questiono se é legítimo tratar este dois termos como sinônimos: metafísica e ontologia. Examino, em seguida, a questão de se a matemática dos conjuntos, em vez de singularidades ou formas primordiais, é um fundamento necessário para um pensamento que procura manter o Múltiplo livre do Um. Argumento que, se o mundo opera mais alinhado a uma fenomenologia das verdades corpóreas e linguísticas, por contraposição ao desafio de manter o múltiplo livre do Um, isso é irrelevante. Como tal, uma virada ontológica baseada em Lógicas de Mundos é no melhor dos casos uma fenomenologia, ainda que uma cuja fundamentação na matemática experimental de Alexander Grothendieck ainda permanecer filosoficamente inexplorada. No final, ela pode apontar para uma estrutura matemática, e não fenomenológica, subjacente aos pontos nos quais os corpos são construídos. Esta persepectiva, contudo, parece não estar contemplada com o escopo da corrente virada ontológica.

Norman Madarazs, Not yet ontological: on a structuralist phenomenologySome of the claims behind the espousal of an ontological turn in contemporary continental philosophy refer to the ground breaking phenomenology developed by Alain Badiou in Logics of Worlds (2006). In terms of Badiou’s works, however, Logics of Worlds represents a shift from the ontological claims made in Being and Event (1988), a shift from determining the universal terms of the truth of the event and its realization as a form of subject, toward examining the specific structures of objectification by which truths are incarnated, as it were, as bodies. In the course of his system’s expansion, Badiou began to rehabilitate the use of “metaphysics” toward the mid-1990s, according to which designator he identifies his belonging, as well as Deleuze’s. In this paper, I review the shift between these two books and question whether it is legitimate to conflate the two terms: metaphysics and ontology. Then I examine the question of whether a mathematics of sets, instead of singularities or primordial forms, is a necessary grounding for a thought seeking to maintain the multiple rid of the One. I argue that whether the world operates more in line with a phenomenology of linguistic and bodily truths, rather than with the ontological challenge of maintaining the multiple free from the One, is irrelevant. As such, an ontological turn based on Logics of Worlds is at best a phenomenology, although one whose ultimate grounding in experimental mathematics as developed by Alexander Grothendieck still remains philosophically unexplored. In the end, it may well point to a mathematical, instead of phenomenological, underpinning behind the points by which bodies are build. However, such a prospect does not seem to lie within the scope of the current ontological turn.

 

5) Markus Gabriel, O sentido da existência 

Resumo: No meu paper irei argumentar que a existência não pode ser uma propriedade própria (PP), sendo PP uma propriedade da referência que coloca alguém na posição de distinguir um objeto no mundo de outros objetos no mundo. A esse respeito, concordo com Kant e Frege. Contudo, um exame mais atento a suas concepções revisionárias de existência (suas ontologias revisionárias) revela uma profunda inconsistência. Kant é muito monista quando reduz existência à aparência em um campo oni-abrangente (o campo da experiência) e Frege permanece idealista demais quando reduz a existência à relação de cair sob um conceito, embora ele esteja certo em pluralizar a ideia básica de Kant. Ao longo dessas linhas vou esboçar alguns movimentos básicos da “ontologia do campos de sentido” que atualmente defendo, que define a “existência” como “aparição objetiva em um campo de sentido”.

Markus Gabriel, The Meaning of Existenc:In my paper, I will argue that existence cannot be a proper property (PP), a PP being a property reference to which puts one into a position to distinguish an object in the world from other objects in the world. In this respect, I agree with Kant and Frege. However, a closer look at their revisionary conceptions of existence (their revisionary ontologies) reveals a deep inconsistency. Kant is to monistic in that he reduces existence to appearance in an all-encompassing field (the field of possible experience) and Frege remains to idealistic in that he reduces existence to the relationship of falling under a concept, even though he is right in pluralizing the Kantian basic idea. Along those lines I will sketch some basic moves of the “ontology of fields of sense,” I currently defend, which defines “existence” as “objective appearance in a field of sense.”

 

5/10

6) Benjamin Noys, Vida Selvagem e a Ontologia do Capital

Resumo: Alain Badiou, no seu Manifesto for Philosophy (1989), observa que a “virtude propriamente ontológica” do capital é ter nos libertado de qualquer crença no Uno (1999: 37). O que me interessa aqui, entretanto, é o que desejaria chamar de vícios ontológicos do capitalismo e como eles se impõem ao nosso pensamento. Por “vícios” refiro-me ao outro lado deste processo de dessacralização, notado por Marx no Capital (1867), na sua referência às sutilezas teológicas e delicadezas metafísicas geradas pela forma da mercadoria (Marx 2010). Sigo essa dinâmica teológica na articulação das contra-ontologias que apelam a uma “vida selvagem”. Embora essas ontologias sejam predicadas sobre um excesso sobre a captura capitalista, irei argumentar que elas encarnam um discurso de redencionista e reativo, um populismo biopolítico, e uma ética que produzem um mito da vida excessiva. Em contraste, considero a “vida selvagem” uma falsa apreensão da relação entre trabalho vivo e valor. Invocações dos poderes superiores da vida espelham a própria fantasia que o capital tem da vida como seu ponto externo capaz de gerar valor constantemente. A tendência a separar vida e capital não salva a vida do capital, mas replica a separação estrutural da produção e reprodução da qual o capital depende. Mais que seguir a vida desde a reprodução até a “morada oculta da produção”, os vitalismos da “vida selvagem” tomam a vida como esta força separada.

Benjamin Noys, Savage life and the ontology of capitalAlain Badiou, in his Manifesto for Philosophy (1989), remarks that the ‘properly ontological virtue’ of capital is to have delivered us from any belief in the One (1999: 37). What concerns me here, however, is what I’d like to call the ontological vices of capitalism and how they impinge upon our thinking. By ‘vices’ I want to refer to the flipside of this process of desacralization, which was noted by Marx, in Capital (1867), in his reference to the theological subtleties and metaphysical niceties generated by the commodity form (Marx 2010). I track this theological dynamic through the articulation of counter-ontologies of ‘savage life’. While such ontologies are predicated on an excess over capitalist capture I will argue that they incarnate a discourse of redemption, a reactive discourse, a biopolitical populism, and an ethics that generates a myth of excessive life. In contrast I consider ‘savage life’ as a misprision of the relation of living labour and value. Invocations of the superior ontological powers of life mirror capital’s own fantasy of life as exterior point that can constantly generate value. The tendency to split apart life and capital does not save life from capital, but replicates the structural separation of production and reproduction on which capital depends. Rather than tracking life from reproduction into the ‘hidden abode of production’, the vitalisms of ‘savage life’ take life as this separated force.

7) Steven Shaviro, Pensamento não-correlacionado

Resumo: Quentin Meillassoux define correlacionismo como “a ideia de acordo com a qual nós somente temos acesso à correlação entre pensamento e ser, e nunca a nenhum dos termos considerado separado do outro”. O que significaria sair desta correlação? Para a maioria dos realistas especulativos, o problema tem relação com o “pensamento” mesmo. Pensar é por definição intencional; é sempre “sobre” algo. Isso significa que o pensamento é intrinsecamente correlacional. Para sair do correlacionismo, então, é necessário conceber um mundo sem pensamento: que (como Meillassoux coloca) seja inteiramente “a-subjetivo” e que “toma a sério a possibilidade de que não há nada vivente ou desejante no reino inorgânico”. Ray Brassier, similarmente, vê o pensamento humano culminando na sua própria morte e dissolução. E Graham Harman encontra pensamento apenas quando entidades se relacionam uma com a outra, mas bane-o de objetos que permanecem “dormentes” e retirados. Meu esforço aqui é fazer uma abordagem radicalmente diferente e perguntar o que pode significar para o pensado ser não-intencional e não-correlacional: o que também significa que pode ser não-reflexivo, e provavelmente não-consciente. Pretendo descobrir um tipo de pensamento “autista” que não é correlativo ao ser, mas imanentemente intrínseco a ele.  

Steven Shaviro, Uncorrelated thought: Quentin Meillassoux defines correlationism as “the idea according to which we only ever have access to the correlation between thinking and being, and never to either term considered apart from the other.” What would it mean to step aside from this correlation? For most of the speculative realists, the problem has to do with “thought” itself. Thinking is by definition intentional; it is always ‘about’ something. This means that thought is intrinsically correlational. In order to get away from correlationism, therefore, it is necessary to conceive a world without thought: one that (as Meillassoux puts it) is entirely “a-subjective” and that “takes seriously the possibility that there is nothing living or willing in the inorganic realm.” Ray Brassier, similarly, sees human thought culminating in its own death and dissolution. And Graham Harman finds thought only when entities relate to one another, but banishes it from objects that remain withdrawn and “dormant.” My own effort here is to take a radically different approach, and to ask what it might mean for thought to be non-intentional and non-correlational: which also means that it would be nonreflexive, and probably nonconscious. I seek to discover a kind of “autistic” thought that is not correlative to being, but immanently intrinsic within it.

 

8) Eduardo Viveiros de Castro, A outra metafísica e a metafísica dos outros

Resumo: A virada ontológica na filosofia contemporânea ocorreu sincronicamente à popularização da palavra (de ordem) “ontologia” na antropologia sociocultural (ver por exemplo o debate ocorrido na Universidade de Manchester, em 2008, em torno do  título provocativo: “Ontology Is Just Another Word for Culture”). Tentarei aqui explorar algumas das causas e consequências desta sincronia. A questão do acesso (epistêmico) a uma dimensão (ontológica) de exterioridade radical, que mobiliza polemicamente o chamado Realismo Especulativo, encontra-se, no caso da antropologia, crucialmente sobredeterminada pelo fato de que o objeto visado como “exterior” ao pensamento (do observador) é, ele próprio, um outro pensamento, aquele do observado. O problema então que se levanta é o de saber onde se deve localizar a dimensão “ontológica”, considerando-se os dois “pensamentos” em confronto. Uma outra particularidade importante do recurso à ideia de ontologia por parte da antropologia diz respeito ao estatuto privilegiado de que a noção de relação goza na disciplina: seja no sentido de que as relações sociais são o objeto por excelência do estudo antropólogico, seja porque o conhecimento antropológico se constitui dentro da relação social (indissoluvelmente política e epistemológica) muito particular que se estabelece entre o “observador” e o “observado”, seja enfim porque os fenômenos humanos são, via de regra, concebidos como fundamentalmente semióticos, logo, relacionais. Acrescente-se a isso o fato de que as metafísicas indígenas (lato sensu) costumam ser caracterizadas, pelos antropólogos, como pressupondo uma “ontologia relacional” e uma imagem “vitalista” do real, o que implica problematicamente a teoria antropológica nos debates da metafisica contemporânea em torno do (cor)relacionalismo, do panpsiquismo, do materialismo e do antropocentrismo.

Eduardo Viveiros de Castro, The other metaphysics and the metaphysics of othersThe ontological turn in contemporary philosophy occurred synchronically to the popularisation of the (watch) word ‘ontology’ in sociocultural anthropology (see, for example, the debate that took place at Manchester University in 2008, with the provocative title ‘Ontology is just another word for culture’). I will attempt to explore some of the causes and consequences of this synchrony. The question of the (epistemic) access to an (ontological) dimension of radical exteriority, which polemically mobilises so-called Speculative Realism, is, in the case of anthropology, crucially overdetermined by the fact that the object ‘exterior’ to (the observer’s) thought is itself another thought. The question that arises is t o know where the ‘ontological’ dimension must be localised, considering both thoughts in confrontation. Another important particularity of the appeal to the idea of ontology by anthropology is related to the privileged status which the notion of relation has in the discipline: firstly, in the sense that social relations are the object par excellence of anthropological studies; secondly, because anthropological knowledge constitutes itself inside a very particular social relation (indissolubly epistemological and political) between ‘observer’ and ‘observed’; and finally because human phenomena are normally conceived as semiotic, therefore, relational. This is further complexified by the fact that indigenous metaphysics (in the broad sense) are usually characterised by antropologists as presupposing a ‘relational ontology’ and a ‘vitalist image’ of the real, which implicates anthropological theory problematically in contemporary metaphysical debates on correlationism, panpsychism, materialism and anthropocentrism.

Publicado em por orangoquango | Deixe um comentário

Mini-curso “A ideia de um pensamento indígena”, com Eduardo Viveiros de Castro

O curso será das 14h às 18h nos dias 1 e 2/10, na sala 501, prédio 5, PUCRS. Não é necessário fazer inscrição prévia.

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

“A virada ontológica na filosofia contemporânea” – Resumos / Comunicações

03/10

MESA 1

16h

Prédio 5 – Auditório térreo

Moderador: Federico Testa (PUCRS)

 

Levinas e Malabou em torno da natureza: do elementar à plasticidade

Moysés Pinto Neto (Doutorando em Filosofia – PUCRS)

 

Nesse texto apresento um contraponto ao privilégio do humano na ética da alteridade desenvolvida por Emmanuel Levinas a partir da crítica ao conceito determinístico de natureza do autor que se baseia em dois princípios: (1) o conatus essendi, vontade de autoconservação, é o impulso próprio do mundo natural e (2) a natureza vincula-se com a dimensão do “sagrado”, que estaria próxima do “horror”, e deveria dar lugar ao “santo”, dimensão ética da relação rosto-a-rosto do humano. Como resposta a isso, apresento o conceito de plasticidade desenvolvido por Catherine Malabou a fim de demonstrar que a fluidez e dinamicidade encontram-se igualmente no mundo natural, sendo equivocada a construção de uma proposta ética na era do antropoceno a partir da divisão kantiana entre “reino da necessidade” e “reino da liberdade”.

 

 

Platon, père excessif et défaillant: o debate em torno do simulacro na tradição continental pós-nietzschiana

Alessandro Zir (Doutor – Dalhousie / Pós-doutorando – UFSC)

 

A ênfase dada por autores como Jacques Derrida e Gilles Deleuze à noção de simulacro pode ser entendida a partir de um diálogo crítico com a tradição platônica. Essa ênfase se liga à questão da inversão do platonismo, explicitamente proposta por Nietzsche, e discutida também por autores como Pierre Klossowski e Martin Heidegger. Tendo em vista um maior esclarecimento da noção de simulacro dentro dessa tradição, a comunicação aqui proposta procura resgatar e pontuar alguns textos chaves desse debate: a declaração feita por Heidegger, no primeiro volume de Nietzsche, quanto ao caráter inovador do Fedro de Platão, no que diz respeito ao entendimento das relações entre arte, beleza e verdade; as múltiplas observações sobre o simulacro feitas por Klossowski em Nietzsche et le cercle vicieux; as colocações sobre Platão e a questão do simulacro feitas por Deleuze em Différence et Répétition e Logique du sens; as colocações sobre Platão e a questão do simulacro feitas por Derrida em ‘La Pharmacie de Platon’ (La dissémination) e Donner le temps.

 

 

O perspectivismo de Nietzsche é uma forma de correlacionalismo?

José Maria Arruda (UFF/ Doutor – Essen)

 

Esta comunicação pretende discutir a questão de se o perspectivismo de Nietzsche é uma forma de correlacionalismo, tal como o caracterizou Quentin Messailloux em seu livro “Aprés la Finitude”. O pensamento de Nietzsche apresenta um viés claramente anti-epistemológico ou pós-epistemológico. Para ele, o termo conhecimento não denota uma relação simples entre nossos pensamentos e porções de uma realidade em si, mas tentativas de esquematizações e interpretações úteis de nossa experiência com o mundo circundante, buscando imprimir regularidade e ordem a um mundo em permanente devir. Nosso intelecto deriva de nossas condições de existência e deve ser entendido à luz da dinâmica própria de nossas estratégias evolutivas para solucionar nossos problemas vitais. Todo o nosso aparato cognitivo está à serviço da nossa necessidade e vontade de poder como parte de um processo natural. Isso denota certa recusa da noção representacionalista do conhecimento e da ideia de que mente e linguagem espelham o mundo ou figuram corretamente a realidade tal qual ela é. Ao rejeitar a epistemologia tradicional, ele rejeita a posição ontológica que lhe serve de suporte: o realismo metafísico. O pressuposto básico do realismo metafísico é o da existência de um mundo independente de nossas descrições, de uma estrutura ontológica delimitada por essências enumeráveis. Para Nietzsche, ao contrário, nós não nos relacionamos com o Ser, como uma estrutura ontológica enumeravelmente delimitada, mas muito mais com a ausência dessa estrutura, que ele denomina Caos ou Devir, para assinalar o modo próprio da fluidez, descontinuidade e temporalidade dos eventos. Decorre daí sua críticas à tese representacionalista da verdade como correspondência, que interpreta verdade em termos de adequação entre proposições e realidade. O representacionalismo pressupõe a existência de um “mundo verdadeiro”, de fatos em si, não relativos às nossas descrições. Para Nietzsche, nossa linguagem não figura nem representa uma realidade independente de nosso modo de abordá-la; nossos discursos não passam de modos úteis e criativos de esquematização lingüística de nossa experiência e de nossas necessidades vitais. Nossos esquemas conceituais e nosso aparato lingüístico são compostos por vocabulários, conceitos e regras que fixam semanticamente um mundo de objetos, que permanecerão sempre ontologicamente parasitários em relação a esses esquemas conceituais e aparatos lingüísticos, logo que não existem “fora” desses esquemas e aparatos. Fatos existem somente no contexto de nossas interpretações. O perspectivismo implica quatro teses centrais: a) Não existe nenhuma descrição das coisas que possa pretender ser uma representação privilegiada do mundo ou das coisas como elas seriam em si mesmas; b) Não existe nada que esteja em uma relação de correspondência como nossas teorias e descrições e que as tornariam verdadeiras ou falsas; c) Nem
lógica nem, nem ciência, nem metafísica, nem qualquer discurso enquanto tal possui prioridade epistêmica, nenhum discurso possui um conhecimento objetivamente neutro,  todo conhecimento é uma construção coletiva de mediações e relações de poder; d) as necessidades e desejos humanos, nosso contexto psico-fisiológico e social, são importantes na construção daquilo que chamamos nosso mundo.     

Argumentaremos que se o perspectivismo de Nietzsche for analisado como uma forma de naturalismo e não de interpretacionismo, então esse perspectivismo não pode ser confundido com o correlacionalismo, tal como o caracterizou Messailoux. 

 

MESA 2

16h

Prédio 5 – Sala 403

Moderador: Richer Fernando Borges (PUCRS)

 

Da epistemologia à ontologia: a posição hegeliana sobre a definição tradicional de conhecimento

Ediovani Antônio Gaboardi (UFFS / Doutorando – PUCRS)

 

A Filosofia de Hegel parte da crítica a Kant, atacando tanto os pressupostos quanto as conclusões da Crítica da razão pura. Em relação aos pressupostos, ele denuncia o fato de a crítica kantiana articular-se a partir de noções cuja validade não é demonstrada, como as de conhecer, sujeito, absoluto, etc. (FE, p. 64-5, § 74-6), além de o próprio método transcendental pressupor a validade de juízos retirados das ciências da época, que deveriam ser fundamentados pela crítica, para então deduzir deles as categorias que determinarão as possibilidades e os limites do conhecimento (ECF, § 42). Em relação às conclusões, Hegel as considera contraditórias, na medida em que estabelecem como válido um tipo de conhecimento que não conhece efetivamente o real, mas apenas sua aparência (FE, p. 64, §74-6). Mas Hegel assume o projeto kantiano de fundamentação última. Na sua realização, entretanto, a instância de fundamentação será deslocada do âmbito da teoria do conhecimento ao da ontologia. Embora esse deslocamento seja tão radical que a própria possibilidade de uma teoria do conhecimento seja negada, o presente estudo pretende evidenciar o que se poderia denominar de “epistemologia hegeliana”, enquanto um conjunto de noções relacionadas ao conceito de conhecimento, a partir das quais Hegel articula a demonstração de que só uma ontologia pode ser a “filosofia primeira”. A Fenomenologia do espírito, que não é propriamente uma epistemologia, mas pelo menos uma metaepistemologia, demonstra, pela radicalização da dúvida cética, a “falência dos modelos fundacionistas” (LUFT, 2006). Com isso, prepara o terreno para a ontologia exposta na Ciência da lógica, cumprindo a tarefa de “fornecer o conceito de ciência” (UTZ, 2010, p. 75), que é sintetizado na noção de saber absoluto. Na verdade, o saber absoluto está pressuposto desde a introdução da Fenomenologia, enquanto a meta “onde o saber não necessita ir além de si mesmo, onde a si mesmo se encontra, onde o conceito corresponde ao objeto e o objeto ao conceito” (FE, p. 68, § 80). O que está implicando nessa noção pode ser mais bem evidenciado analisando-o a partir de alguns referenciais da assim chamada epistemologia tradicional contemporânea, que parte da definição segundo a qual conhecimento é “crença verdadeira justificada” (AUSTIN, 2003, p. 220). Em relação ao problema central colocado aí, a justificação, a “epistemologia hegeliana” refuta o fundacionismo e aproxima-se mais da posição coerentista. Entretanto, implica a superação do dualismo entre sujeito e objeto implícito também nessa posição. A justificação precisa ser imanente à verdade que justifica, ou seja, só há justificação enquanto auto-justificação do conhecimento verdadeiro. Assim,
apenas o próprio conhecimento verdadeiro dispõe de pressupostos legítimos para justificar-se. Só a ontologia, enquanto exposição do que é verdadeiro em si mesmo, tem condições de cumprir a tarefa moderna da justificação absoluta.

 

 

Como deve ser feito o início da ciência? Prolegômenos para uma reelaboração ontológica do materialismo

Lucas Camarotti (Mestrando em Direito – UnB)

 

Nosso trabalho se dará em dois tempos. (1) Primeiramente, o objetivo será investigar o dualismo entre física e metafísica subjacente ao pensamento moderno. Não o compreenderemos, contudo, à maneira habitual: não se tratará de pensar o além-mundo metafísico como Ideia excedente em relação ao exclusivamente “humano” – algo como uma distinção entre “assuntos divinos” e “assuntos humanos” –, mas como a Ideia da realidade humana-social mesma. Dualismo, assim, entre a realidade material dos corpos e a idealidade “existente” apenas na substância impossível do espírito, aquela que o pensador do século XX chamará de “simbólica”, constituída não de objetos materiais, mas de “objetos” ideais, pretensamente dotados de causalidade e sistematicidade próprias. Após o esclarecimento desta chave de compreensão, buscaremos elaborar uma leitura da modernidade enquanto percurso de indeterminação do pensamento, nos três momentos centrais em que o destino intelectual da “segunda natureza” é decidido: um momento fundante, exemplarmente expresso na metafísica cartesiana, onde situaremos o que se denominará dogmatismo determinado (ou metafísica determinada), caracterizado pela antecipação de uma Ideia determinada – Deus, Substância etc. – em relação à realidade material (no “interior” da qual esta encontra seu ser); e dois momentos consequentes, que encontram nessa determinação metafísica seu suporte crítico-negativo, convertendo-a em Ideia indeterminada e expressando assim o que chamaremos de dogmatismo indeterminado (ou metafísica indeterminada), em cujo seio o pensar já inicia na incognoscibilidade da Ideia. Analogamente ao correlacionismo “fraco” e “forte” formulado recentemente por Quentin Meillassoux, falaremos, quanto a estes, em um momento kantiano, onde a Ideia determinada persiste através de sua conversão conceitual em Ideia indeterminada, no entanto ainda determinável (transcendentalmente) nos próprios termos de sua indeterminação, e um momento pós-kantiano, correspondente à filosofia do século XX (sobretudo às reviragens linguísticas/hermenêuticas/interpretativas), em que à indeterminação da realidade é conferida uma prioridade “ontológica” (propriamente ideológica, por pensar não o puro ser, mas a Ideia indeterminada do ser) tão radical que sequer há mais espaço para a busca de sua compreensão racional – momento que, enquanto etapa derradeira no percurso de indeterminação do pensamento, pensaremos como a consumação da modernidade (filosófica). (2) Aqui entraremos para o segundo tempo da apresentação, que consistirá no esclarecimento (não propriamente na resolução, que será aludida apenas genericamente) de um par de questões fundamentais, capaz de romper com a (con)sequência moderna: de que forma é possível pensar a relação humana na realidade sem ascender à dimensão metafísica da Ideia? Em outras palavras, como pensar esta relação sem qualquer mediação ideológica, sem “passagem” especulativa à “segunda natureza”? E ainda, mais profundamente: se isto for racionalmente possível, quais seriam as implicações filosófico-relacionais (“políticas”) do conhecimento da realidade física como realidade autônoma em relação à Ideia? O desafio aberto por estes questionamentos não deve nos levar à simples pressuposição da fisicalidade do real, à maneira do “materialismo vulgar” (científico-positivo), mas à interrogação de um materialismo ontológico que esclareça filosoficamente a realidade puramente material da relação. O ponto, diremos, reside na pergunta inaugural da metafísica cartesiana, pergunta que Hegel – a “consciência” inconfessa do “saber” em circulação na modernidade consumada, por elaborar expressamente a metafísica da indeterminação enquanto Lógica da Ideia –, a seu modo, enunciará celebremente no começo da primeira parte da Ciência da Lógica (Doutrina do Ser): como deve ser feito o início da ciência?

Palavras-chave: dualismo física/metafísica; idealismo; materialismo.

 

 

Ontologia e linguagem da música: primeiras reflexões para um projeto de pesquisa

Adriano Bueno Kurle (Doutorando em Filosofia – PUCRS)

 

Esta comunicação visa apresentar a ideia inicial de um projeto de pesquisa interdisciplinar entre Música e Filosofia. Meu objetivo é compreender quais são os elementos ontológicos da música e como a música pode ser compreendida como uma forma de linguagem. Para uma abordagem inicial, penso os objetos centrais da música, a saber: tempo e som. O tempo é um objeto fundamental que não é específico da música, mas mais universal. Já certa determinação do som em notas é compreendida por mim como uma instância ontológica própria da música, e esta determinação do som em notas como a construção de ferramentas centrais para a construção dos discursos musicais.  Visto que a música se constitui historicamente através da determinação de um sistema central de organização do som, que serve como referência para a construção e compreensão do discurso musical, busco compreender como esta construção é feita e por que ela é importante para a formação de uma cultura musical. Penso que a música é organizada e executada de acordo com regras que servem como diretrizes básicas e servem como elementos da construção de uma linguagem, considerando que a música é também (mas talvez não apenas) uma forma de expressão linguística. A música serve, portanto, como paradigma para a compreensão da linguagem, sendo que devo assim justificar (1) Por que a música deve ser compreendida como linguagem; (2) Por que a construção de um sistema básico de referências, enquanto determinação de conceitos estruturadores, faz parte da possibilidade de construção de discursos; (3) Que este sistema seja uma construção matemática e também perceptual sobre um objeto indeterminado (neste caso, o som puro). Meu objetivo não é responder estas questões, mas somente apontar algumas ideias que nortearão a pesquisa futura, apresentando as questões principais que devem ser respondidas.

 

 

04/10

MESA 1

16h

Prédio 5 – Auditório térreo

Moderador: Adriano Bueno Kurle (PUCRS)

 

A anterioridade da terra

Marco Antonio Valentim (UFPR / Doutor – UFRJ)

 

Em vista da questão contemporânea acerca da possibilidade de uma “virada ontológica” para além das barreiras impostas pelo criticismo, almeja-se esboçar uma discussão sobre a natureza da ontologia por recurso a uma experiência de pensamento que faria exceção, tanto epistêmica quanto politicamente, ao regime ontológico ocidental. Como exemplar deste último, toma-se o projeto filosófico da “ontologia fundamental”, inaugurado por Martin Heidegger em Ser e tempo. A sua exemplaridade é justificada pela tentativa que o anima de produzir uma unificação monumental entre a concepção aristotélica do ente enquanto ente e a apercepção transcendental de Kant, interpretadas, a despeito da distância histórica, como aspectos mutuamente solidários da mesma “ideia originária do ser”. Pretende-se considerar uma das muitas formulações que essa ideia recebe na obra de Heidegger, presente nos Seminários de Zollikon como registro de diálogo com Medard Boss: contra a ciência natural, o “homem cotidiano” e um
exemplo de pensamento mítico “desumanizante”, Heidegger contesta a afirmação da anterioridade ontológica da terra (Erde) em relação ao “ser-aí humano”, pois “não pode em absoluto haver ser do ente sem o homem”. Com isso, evidencia-se o traço intrinsecamente antropogenético do discurso ontológico-fundamental. Longe de entrar em conflito com o conceito filosófico da terra, a contestação de seu conceito natural-cotidiano-mítico confirma aquele traço: em A origem da obra de arte, a terra é pensada como dimensão originária da “clareira do ser”, da qual o homem é o único “guarda” – a terra como potência genuinamente histórica de fundação do mundo humano. Se se pode falar aqui em “virada ontológica”, esta traduz-se, malgrado ela mesma (até certo ponto), em uma radicalização do antropocentrismo próprio da revolução copernicana, sem implicar uma ruptura radical com a ontologia antiga (como se lê em Ser e tempo, Aristóteles, ao distinguir entre ser e ente, não teria sido “menos idealista” que Kant). Seria a antropogênese uma marca característica da ontologia enquanto tal? Para discutir essa hipótese, procura-se contrapor ao discurso paradigmático de Heidegger sobre a terra o pensamento contra-ocidental que Eduardo Viveiros de Castro denomina “perspectivismo cosmológico” ou ontologia (em sentido estrategicamente problemático) “multinaturalista”: “a concepção, comum a muitos povos do continente [ameríndio], segundo a qual o mundo é habitado por diferentes espécies de sujeitos ou pessoas, humanas e não-humanas, que o apreendem segundo pontos de vista distintos
”. A partir de
tal concepção, que contraria a base fundamental do discurso sobre o ser (isto é, a ideia da centralidade ontológica do homem), tenta-se interpretar a palavra de Davi Kopenawa, “xamã-filósofo” (Viveiros de Castro) Yanomami, sobre a anterioridade cosmopolítica da terra, palavra na qual se põe em questão, como que meta-ontologicamente, a “virada ontológica” operada por Heidegger: “Eu não digo: ‘Eu descobri esta terra porque meus olhos caíram sobre ela, portanto a possuo!’. Ela existe desde sempre, antes de mim”. Se, como diz Pierre Clastres a propósito do problema antropológico-político, “é da revolução copernicana que se trata”, talvez seja preciso igualmente, em se perguntando pela possibilidade de uma “ontologia” não-antropogenética, operar a conversão geo-cêntrica.

 

 

“Tudo cósmico e exterior”: a o(do)ntologia do pensamento antropofágico

Marcos de Almeida Matos (UFAC / Mestre – UFMG)

 

Pode-se dizer que ontologia não encontra um fim na Crítica da Razão Pura, mas passa ali por uma transformação fundamental: ela é determinada por Kant como “simples analítica do entendimento puro”, e se vê reduzida às condições de um “objeto em geral”. A conquista kantinana se mostrou duradoura: a ontologia vai ser confinada nos pressupostos do juízo e da representação por filósofos de distintas tradições, tanto na fenomenologia quanto entre os herdeiros do Tractatus Logico-Philosophicus de Wittgenstein. No ápice da ilustração moderna, Kant teria finalmente possibilitado o fim da gigantomachia peri tēs ousias, lançando as bases para uma paz perpétua. Usada como catalisador na associação entre a ciência e o poder, a filosofia crítica instituirá uma espécie de “direito de conquista ontológica”, a partir do qual todo ser será a priori definido do ponto de vista de sua disponibilidade para a representação humana. Desse ponto de vista, como argumenta Stengers, a ciência será representante de uma “conduta em relação à qual toda forma de resistência poderá ser considerada obscurantista ou irracional”. Essa simplificação da ontologia acontece no interior de um movimento mais amplo de pacificação empreendido de diferentes modos pelo pensamento moderno. Simplificação, ou também purificação, ou ainda neutralização: como escreveu Carl Schmitt, “a história da formação do Estado na Europa é a história da neutralização das diferenças – de denominação, sociais e outras – dentro do Estado”. No entanto, como Latour, Stengers, e o coletivo Tiqqun (entre outros) mostraram, a paz conquistada pela simplificação das ontologias é uma paz ilusória, na qual o Ocidente prescinde da formulação explícita de estratégias e esforços de diplomacia cosmopolítica e passa determinar sua ação como trabalho policial-pedagógico (i.e., como modernização). Se hoje vemos florescer o interesse renovado por uma pluralidade de ontologias e metafísicas diferentes, talvez possamos agora reconhecer melhor a extensão da guerra em curso. Historicamente, um dos principais campos de batalha desses conflitos ontológicos é a questão da intencionalidade. A comunicação proposta pretende, partindo de um breve exame das questões colocadas acima, mostrar como a filosofia antropofágica de Oswald de Andrade, tomando posse das ideias de Freud, Meinong, William James e outros, institui-se como uma máquina de guerra contra o reducionismo e o imperialismo ontológico.

 

 

Bioinformática e excesso de biopoder

Aécio Amaral (UFPB / Doutorando Goldsmiths College – University of London)

 

Sistemas informáticos de armazenamento e sequenciamento de dados biológicos são um exemplo de “excesso de biopoder”, ou seja, a capacidade do poder de criar e reproduzir matéria orgânica. Por meio do termo, Michel Foucault identificou nos anos 1980 a seguinte aporia: o crescente, incessante aperfeiçoamento da vida propiciado pela entrada do patrimônio biológico irrestrito no escopo da política liberal esbarra, na era nuclear, com o potencial do poder de destruir a vida em si. Tal aporia alimentou uma variante política da afirmação da morte do Homem tal como concebido pelo discurso filosófico ao longo dos seéculos XVII e XIX. Formado a partir de recursos de pesquisa oriundos da corrida nuclear, o campo das biotecnologias, por meio da propiciação tecnológica da vida baseada no princípio epistemológico da combinação irrestrita da matéria orgânica, recomenda uma reformulação da tese foucauldiana acerca do modo como um entendimento antropo-filosófico da vida e da finitude subjaz o entendimento da experiência na modernidade ao informar as esferas de conhecimento acerca da vida, labor  e linguagem. Com base nesta hipótese, a comunicação propõe uma análise da bioinformática como “excesso de biopoder” baseada numa revisita ao legado foucauldiano. O argumento que embasa nossa hipótese é o seguinte: as técnicas de sequenciamento e representação do DNA desafiam a narrativa filosófica da analítica da finitude, pois introduzem um modo de ordenamento e formalização do conhecimento cujas condições subjacentes não são os limites transcendentais do antropos, e sim a reorientação das esferas da vida (biologia molecular), labor (bioeconomia) e linguagem (bioinformática) rumo ao ideal da combinação ilimitada da matéria orgânica. As reinterpretações recentes do elo liberalismo/biopolítica fornecidas por Agamben e pelos proponentes de uma “biopolítica da vida em si” no mundo anglo-saxão passam ao largo desse tipo de revisita ao legado foucauldiano. Em face da reconfiguração operada pela bioinformática nos três campos de positividade abordados por Foucault em As palavras e as coisas, sugiro que devemos apreciar o argumento de Derrida e Stiegler segundo o qual a vida difere de si própria por meios outros que a vida, por meio da técnica. Tal afirmação instaura um novo índex para o entendimento filosófico-materialista da experiência na cultura tecnológica contemporânea: em lugar do par imanência/transcendência, o conhecimento deve ser entendido a partir da co-constituição entre vida e técnica, em virtude da qual o conhecimento ganha exterioridade em relação ao sujeito que sabe.

 

MESA 2

16h

Prédio 5 – Sala 403

Moderador: José Maria Arruda (UFF)

 

A metafísica do fim da metafísica

Maicon Reus Engler (Doutorando – UFSC)

 

Assim como os filósofos do período helenístico eram coagidos a pensar sob a imponente sombra da especulação de Platão e de Aristóteles, parece que nós somos obrigados a pensar na escuridão assustadora de uma grande noite em que a Metafísica está morta enquanto possibilidade filosófica legítima. Como efeito, a morte da Metafísica se tornou fato incontornável do início do século XX para cá, e a poucos causa admiração que correntes filosóficas tão distintas – para não dizer profundamente hostis umas às outras, como a filosofia analítica e o pensamento de Heidegger – aceitem tranquilamente a evidência desse fato, ainda que movidas por razões diversas. O mínimo que se poderia esperar da nossa “escola da suspeita” (como Nietzsche outrora batizou a filosofia moderna) era que houvesse alguma diafonia a respeito de um problema tão fundamental quanto este; mas, por incrível que pareça, o que o nosso ouvido distingue é apenas um repetido canto gregoriano que já dura mais de cem anos. Apesar disso, ainda se admite a sobrevivência de reflexões ontológicas que, sem o peso nem a ingenuidade daquele pensamento que desejava se alçar para além das sensações ou da natureza, devem salvaguardar a legitimidade da investigação sobre o ser das coisas: fala-se então de uma ontologia da música, da arte, da política, do cinema; apela-se então a versões veritativamente mais “fracas” da mereologia, da ontologia categorial ou da fenomenologia. A palavra “ontologia” vem para substituir o desterrado termo “metafísica”. Em seu conjunto, essas reflexões dão a impressão de um forte reavivamento da ontologia – em parte provocado pelo “fracasso” da filosofia da linguagem que a deveria ter superado – e, ao menos como forma de clarificação dos conceitos usados nas “regiões” das ciências, elas lhe garantem um nicho no templo das inúmeras investigações contemporâneas. Entretanto, parece que até mesmo esse reavivamento se move no interior do fato acima mencionado, a saber, de que a Metafísica/ontologia morreu, pois não é possível falar em “renascimento” sem que de antemão se pressuponha uma morte. Como se sabe, a certidão de óbito da Metafísica foi lavrada no cartório de Nietzsche e de Heidegger, entre outros, e nunca é demais voltar a esses autores para ver o sentido que atribuíam a tal acontecimento. Heidegger interpretou a “morte de Deus” anunciada por Nietzsche num sentido filosófico, como a morte da suprassensibilidade e da Metafísica. Nietzsche é honesto o bastante para delatar o assassino de Deus – nós mesmos – porém, em sua interpretação secularizada, Heidegger menciona apenas um evento (Ereignis) algo fantasmagórico que simplesmente “acontece” (es geschieht). A tese que apresento nesta comunicação é a seguinte: sendo a metafísica uma esfera da existência humana, não apenas uma disciplina filosófica, não se pode decretar a sua morte sem que se entre em seu domínio, i.e, sem que se possua uma metafísica prévia. Assim, analisando a epídeixis desse famoso perecimento, desejo mostrar que existe toda uma metafísica do fim da metafísica, algo que por si só parece contradizer a ideia de que tal “atividade” humana possa um dia acabar.   

 

 

Como dizer o ser? Uma interpretação do Sofista de Platão a partir de Heidegger

Viviane Magalhães Pereira (Doutoranda em Filosofia – PUCRS)

No Sofista de Platão está em questão a relação entre discurso e ser. Sendo este um tema fundamental da ontologia, ele faz parte ainda hoje das discussões filosóficas. O fato é que os conceitos da filosofia grega ainda determinam o que se formula em filosofia e ciência. E qualquer autor que pretenda realizar uma “virada ontológica” precisa se dar conta disso. Desse modo, compreender o Sofista ainda é uma tarefa atual, isto é, uma experiência possível para que entendamos o que significa “ontologia” nos nossos dias. Ao dizer o que o sofista seria, Platão mostra indiretamente o que seria o filósofo e qual sua postura frente os conceitos de ser e de não ser, tão fundamentais para a interpretação da relação entre discurso e ser. Buscando orientar-se pelo caminho do filósofo, Martin Heidegger medita de forma aprofundada sobre essa obra de Platão. Assim, o nosso objetivo nesse trabalho é expor como é possível uma leitura do Sofista de Platão a partir de um pensamento contemporâneo, em especial, a filosofia de Heidegger.

 

 

Uma virada ontológica que poderia abandonar a ontologia: a transcendência a posteriori

Nelson Job (Doutor – UFRJ / Pós-doutorando – UFRJ)

 

A transcendência há muito assombra o pensamento. Se, de um lado, uma ontologia que se desdobra a partir dos Estoicos relaciona o ser com o devir, promovendo a mudança como instância mais profunda, atravessando todos os níveis da existência, de outro, pensadores da permanência separam um devir da transcendência. Uma filosofia em devir inevitavelmente expulsou a transcendência de sua ontologia. Sequer se poderia mais conceber essa ontologia com uma epistemologia que a transcende. Manuel DeLanda propõe uma “ontologia plana” em que ontologia e epistemologia estão fundidas. Parece ser a última dualidade a se (re)conectar. Porém, uma inesperada virada ontológica pode advir, fazendo com que um devir possa gerar uma transcendência. O conceito de devir clamou por impermanências na história do pensamento desde Heráclito por volta de 600 aC e veio a ser desdobrado pelos Spinoza (devir subordinado ao eterno), Nietzsche (devir inscrito em “eterno retorno”), Bergson (devir limitado a uma mística cristã), Deleuze (devir contra-natureza, mas que se torna, novamente natureza, impedindo, assim, um devir pós-natureza, um devir de fato selvagem) etc. Esses autores “proibiram” o devir de se relacionar com qualquer tipo de transcendência, porém, se deixarmos o devir absolutamente selvagem, quais as consequências? Se Whitehead promove uma complementariedade entre imanência e transcendência, Deleuze, em seu último texto, considera uma transcendência que poderia emergir de uma imanência. Acrescentaríamos: poderia ser a resultante de um devir sem diques, selvagem. Acreditamos que possa surgir daí uma transcendência a posteriori. Diferente das transcendências conhecidas, como o mundo das idéias Platônico, o Deus Escolático ou imperativos categóricos de Kant e até mesmo diferente do Uno de Plotino, relacionado ao não-ser. Também não é uma “nova metafísica”, pois não sabemos sua relação com a física, seja em quaisquer das concepções de “física”. Uma transcendência a posteriori é absolutamente desconhecida e não existe necessariamente, apenas como possibilidade de um devir selvagem. Não uma nova dualidade, pois essa transcendência não “se opõe” a uma imanência, é outra “coisa”, adversa, não podemos nomeá-la de atemporal, pois não sabemos sua relação com o tempo, ou melhor, se ela é de alguma ordem (a)temporal. Tampouco sabemos se ela gera um discreto, pois ela pode não ter relação com a imanência, poderia não “perfurá-la” (o que, se assim ocorresse, geraria de fato um discreto no outrora contínuo). Nem sequer podemos advogar um não-ser, seja neoplatônico ou uma nova concepção de não-ser, pois negar o ser já é um conceito, e acerca da transcendência a posteriori, não sabemos nada, a não ser a possibilidade de que ela venha ser “criada”, nos obrigando a um exercício de pensamento que evoca a todo tempo um não saber, em outras palavras, promove-se uma conceituação cuja única função é abandonar conceitos: conceitos que se desfazem para tentar aceitar (e não “conceber”) a possibilidade do inconcebível. Toda essa articulação não é uma parada no pensamento, mas um convite a, de fato, não pensar contra o inconcebível, nem apesar dele, mas com ele, aceitando sua possibilidade, talvez, uma pós-ontologia?
Nomearemos, a princípio, de “ontologia onírica”.

 

 

05/10

MESA 1

16h

Prédio 5 – Auditório térreo

Moderador: Aécio Amaral (UFPB)

 

Relações internas como acontecimentos em Leibniz

Déborah Danowski (PUCRJ / Doutora – PUCRJ)

 

Em vários textos que podem ser compreendidos dentro do que se vem chamando de Realismo Especulativo, ou, em alguns casos, de “Ontologia Orientada para o Objeto” (OOO), aparecem recorrentemente dois argumentos teóricos contrários ao “relacionalismo”, os quais, direta ou indiretamente, dizem respeito à metafísica leibniziana: o primeiro é que o relacionalismo radical implica uma concepção do real segundo a qual os entes, por não terem uma essência própria e não-relacional, ficam inteiramente à mercê de suas interações com os outros entes, e portanto sem autonomia e liberdade. O segundo é que uma metafísica para a qual todas as relações são internas aos seres não consegue explicar sem contradições o surgimento da novidade, e portanto implicaria no fundo um necessitarismo, também inaceitável quando se quer preservar a autonomia e a liberdade da ação, humana ou outra, e a contingência de maneira mais geral. Essa crítica ao relacionalismo radical não chega a ser exatamente surpreendente para os estudiosos de Leibniz, que conhecem muito bem o temor que podia causar nos defensores do livre arbítrio o conceito leibniziano de substância, segundo o qual todo predicado verdadeiro está contido no sujeito. Embora Leibniz visse essa inerência do predicado no sujeito, e a consequente determinação completa das substâncias por razões contidas em seu próprio conceito, como, antes que um impedimento, uma condição do livre-arbítrio das criaturas e de Deus, ainda hoje sua concepção tem que ser defendida contra os que a veem como impossibilitando a liberdade, a novidade e mesmo a pura contingência. Neste texto, buscaremos nos contrapor às críticas acima, recorrendo à leitura inovadora que Gilles Deleuze, sobretudo em A dobra: Leibniz e o barroco (1988), fez da teoria leibniziana do predicado no sujeito. Segundo Deleuze, Leibniz tinha uma “forte consciência da anterioridade e da originalidade do acontecimento em relação ao predicado” (Logique du sens: 200-201), e uma análise atenta de seus textos mostra que aquilo que ele afirma estar contido no sujeito não é um atributo, mas sempre um acontecimento. Em outras palavras, tanto nas proposições de essência como nas de existência, o predicado para Leibniz é uma relação ou acontecimento, e, mais particularmente nas proposições de existência concernentes à ação, ele se inclui no sujeito, não enquanto um atributo já constituído e portanto vindo compor os motivos passados que determinariam uma vontade supostamente neutra, mas enquanto um ato presente, que será tanto mais livre quanto melhor exprimir aquela amplitude de alma ou ponto de vista particular. É apenas em virtude da inclusão deste ato no presente que se pode dizer que o mundo inteiro, passado e futuro, próximo e distante, está contido no sujeito ou substância. 

 

O “reino subterrâneo”: apontamentos sobre a ficção da matéria e a matéria da ficção

Alexandre Nodari
(Doutor – UFSC / Pós-doutorando – UFSC)

 

Se a linguistic turn conferiu à literatura uma enorme importância, foi ao preço de retirar-lhe, em grande parte, sua especificidade. A virada ontológica talvez possa contribuir para restituir ao (contra-)campo literário sua topografia e biosfera mais própria, habitada por demônios, gênios impessoais, fantasmas, imagens, e caracterizada por relações de possessão e despossessão, definindo seu estatuto ontológico e repotencializando-a. Para tanto, talvez fosse útil repensar o conceito de ficção, ampliando o horizonte dado por Saer (antropologia especulativa) de modo a compreendê-la como uma especulação perspectivista (Nietzsche, Viveiros de Castro). Por essa via, o que singulariza a literatura é aquilo que a distingue da filosofia: na famosa formulação aristotélica, o poeta (philomythos) e o filósofo são aproximados pelo espanto/admiração/maravilhamento (o thaumazein), fonte de todo saber; contudo, a diferença crucial consiste em que o poeta produz, cria ou inventa (encontra, descobre) tal espanto. O que o poeta mimetiza não são as coisas, as ações ou as idéias, mas o poder de espanto contido na natureza e na matéria. Desse modo, a literatura é mais um “geomorfismo” que (ou para além de) um “antropomorfismo” (Daniel Link, Deleuze e Guattari), invenção de mundos (e não cópia do mundo). Mas de onde vem o poder de espanto da matéria? No heteróclito casamento entre as filosofias aristotélica e platônica (algo como o casamento do céu com o inferno de Blake), Plotino caracteriza a matéria sensível como “por assim dizer [hoion, como que, quase], a rejeitada [ekripheisa, lançado para fora] do ser, a totalmente deslocada [choristheisa]”. Sendo pura potência indeterminada sem forma, a matéria apresenta-se como o quase exilado do ser, e suas atualizações não passam de “imagens” e “mentiras”. É evidente a dimensão platônica da formulação que relega o sensível a um reino de sombras e assombrações. Mas a literatura aceita essa condição de exílio do ser, em que se encontra o mundo material, do qual participa e ajuda a criar (sua fonte e escoadouro), ao mesmo tempo em que – e nisso consiste a sua politicidade – rejeita o Uno ou a Idéia que estaria acima deste reino subterrâneo que habitamos junto a Quixote, Gregor Samsa, Macabéa e Odradek. Como saber telúrico, a literatura seria também o saber mais prático e materialista, ainda que puramente experimental, ao criar e povoar mundos naturais impossíveis de serem remetidos ao Um. O mundo material (e) da ficção, portanto, seria um mundo do quase- e do como se-, que se caracterizaria não pelo termo de comparação (o Ser do quase-Ser, a Idéia mimetizada pelo como), mas pela intensificação desse hiato (quase, como) infinitesimal que, simultaneamente, o aproxima e afasta de tal termo. Para sempre exilada do Real, a literatura possibilita experimentar a (in)consistência do “quase-ser” e da “irrealidade como tal” (Ortega y Gasset), o mundo utópico, que é também a nossa casa.

 

 

Foucault e a literatura: o “ser da linguagem” como ontologia vazia

André Bassères (Mestre – UERJ)

 

“Vemos as coisas porque as palavras faltam:
a luz de seu ser é a cratera inflamada onde a linguagem desmorona-se. As
coisas, as palavras, o olhar e a morte, o sol e a linguagem formam uma figura
única, cerrada, coerente, a mesma que somos”.

Michel Foucault, Raymond Roussel, p. 147.

 

Em um artigo célebre, intitulado “O Pensamento do Fora”, Foucault nos apresenta uma suspeita: a reflexão ocidental excluiu por longo tempo as indagações acerca do ser da linguagem por pressentir secretamente o “perigo que constituiria para a evidência do ‘Eu sou a experiência nua da linguagem”. Colocar em questão o “ser da linguagem” é procurar o sujeito não em uma “pacífica” e sólida posição onde o encontraríamos como “puro emissor” de enunciados, mas sim no entrecruzamento de relações, de discursos, de práticas. O “sujeito de enunciação” é, para Foucault, uma “figura de linguagem”, um “lugar vazio”, que deverá ser preenchido pelo recorte das relações em cada dado momento onde há um “eu falo”. linguagem é, portanto, o lugar por excelência para pensarmos a relação que a filosofia de Michel Foucault entretém com a ontologia, pois, como ele mesmo escreveu, e é em seus textos sobre a literatura enquanto acontecimento singular onde podemos encontrar melhor explorada a questão da linguagem como “solo ontológico”, já que aqui, livre de toda consideração exterior (das práticas discursivas e extra-discursivas que se engendram na história, das relações de poder, da dimensão representativa do discurso, etc.), Foucault pôde se debruçar sobre a linguagem enquanto procedimento: seus jogos, sua proliferação, sua relação com a morte, com o fora.

 

MESA 2

16h

Prédio 5 – Sala 403

Moderador: Tiegue Rodrigues (PUCRS)

 

A especulação da ambigüidade: contribuição para uma ontologia não-correlacional e apartada das condições epistemológicas clássicas

Vanessa Nicola Labrea (Graduanda – PUCRS)

 

Diante à notação (mais recentemente realizada por Meillassoux e ampliada pelo que se convencionou
chamar realismo especulativo) da insistência do corte epistemológico que opõe subjetividade e objetividade sob o suporte de fazê-las participarem ou de algum materialismo ou de alguma filosofia da transcendentalidade, e também frente aos projetos inacabados de Merleau-Ponty, nós propomos interrogar a viabilidade de uma alternativa não correlacional para a ontologia contemporânea; i.e, um sistema ontológico que não apenas se distancie da antinomia conceitual sujeito-objeto, mas que tenha fortemente em vista a fragilidade do que nomeamos realidade, já que, por prolongamento de uma ou outra extremidade das possibilidades que se nos apresentam e em análises pretensamente sincrônicas, muito depressa (naturalismo) ou com algum atraso (reflexão), construímos um novo absoluto. Tomando como exemplo a crítica merleau-pontiana à dialética correlacionista de Sartre, discutiremos, por exemplo, as implicações que surgem ao problema da intersubjetividade quando assumimos uma ontologia ao modo clássico. Por fim, e convidando ao diálogo a física e a biologia contemporâneas, questionaremos como poderiam, mesmo se ainda em esboço, as noções de ambiguidade, campo de disponibilidades ou entrelaçamento, contribuir para uma reformulação ontológica dentro da filosofia atual.

 

O problema difícil da consciência – o problema difícil da ontologia?

Lucas Nascimento Machado (Mestrando – USP)

 

Em nossa apresentação, buscaremos discutir, a partir dos textos de Chalmers, O Enigma da Experiência Consciente, e o de Place, É a Consciência um Processo Cerebral, em que medida o assim chamado por Chalmers de “o problema difícil da consciência” estaria vinculado ou mesmo confundir-se-ia com um ou mais problemas que, na verdade, teriam sua origem na ontologia, tais como “O que significa dizer que algo é?”, ou, ainda, “O que significa dizer que uma coisa é outra coisa?”. Nesse sentido buscaremos desenvolver a hipótese de que, por trás de muitas das dificuldades em torno do “problema difícil da consciência” estariam certos pressupostos ontológicos, cuja reformulação ou reconsideração poderiam, talvez, abrir novos rumos para a reflexão sobre a consciência e a sua relação com os processos cerebrais.  Em poucas palavras, buscaremos discutir em que medida uma certa ‘virada ontológica’ que, possivelmente, recorreria a uma ambivalência inerente à própria ontologia, poderia contribuir para avançar na compreensão sobre o que é a consciência.

 

 

Relativismo epistemológico moderado: revisitar a realidade

Halina Macedo Leal (Doutora – USP)

 

No contexto da Filosofia e História da Ciência, é possível afirmar que a questão da “virada linguística” e do acesso humano ao conhecimento passa por, pelo menos, dois processos distintos: o de defesa de um ideal lógico generalizante de apreensão e avaliação da ciência e o de crítica a tal ideal com a ênfase
no emprego da história e de relações sociais na aquisição de tal conhecimento. No que diz respeito às abordagens que se inserem neste último processo, as negações do ideal lógico e da generalização estrita conduzem a questionamentos acerca dos limites e do alcance do conhecimento então produzido, tendo em vista a valorização do sujeito conhecedor enquanto construído espaço-temporalmente. Surgem, assim, questões acerca da relativização do conhecer. Nestes termos, o presente trabalho propõe uma reflexão e revisão acerca do conceito de relativismo epistemológico. Sugere-se a sustentação de uma posição relativista não extrema, um relativismo que considere as idiossincrasias individuais e contextuais do sujeito conhecedor, mas que não abandone a ideia de distintos acessos a um mesmo “ser”, a uma mesma “realidade”. Em última análise, um relativismo que, ao permitir distintos olhares para a realidade a reforce enquanto existente e enquanto condição de possibilidade da objetividade da ciência.

 

 

 

Publicado em Eventos, Uncategorized | Deixe um comentário